segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Teju Jagua - Prelúdio

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      Vive no cerro do Jarau, em meio a um imenso tesouro. O poderoso deus das cavernas, grutas e lagos. O gigante com corpo de lagarto e sete cabeças de cachorro, que desceu até o nosso mundo para construir esconderijos nas montanhas para nos livrar do plano de Anhangá, o deus das regiões infernais.
      Dentro do domínio dos infinitos, os deuses sempre se reunião para discutir o destino dos mortais ou mesmo para realizar jogos e apostas, sobre a vida deles: Tupã "o espírito trovão" , Jaci a deusa Lua, Guaraci o deus Sol, Ceuci a deusa das lavouras e seu filho Jurupari "o espírito guia e guardião", Sumé o deus do conhecimento , Akuanduba que toca sua flauta para trazer ordem ao mundo, Yorixiriamori o deus pássaro, Yebá Bëlo a criadora do universo que fez os sere-humanos a partir das folhas de coca, Wanadi também deus criador. E até mesmo a personificação do mal com os deuses Luison o detentor da morte e Anhangá, inimigo de Tupã e governante das regiões infernais. 
     Todavia, o deus Teju Jagua era considerado um deus inferior, e foi designado pelos outros que ele não participasse das reuniões para decidir o destino da história do mortais, e nem interferir de forma direta, na vida deles. Além de não poder ter poder para interferir na vida dos seres humanos Teju Jaguar era sempre chamado de "o deus deformado" pelos outros imortais supremos. Porque a sua aparência era considerada abominável para um deus, pois era consenso entre os imortais de que um deus deveria ter a aparência além da perfeição, para que os mortais jamais possam se comparar ao seu padrão de beleza. E a existência de Teju Jagua, manchava o orgulho dos deuses, que o reprimiam ainda mais por ter nascido assim. 
    Teju Jagua tinha certa dificuldade de locomoção, pois apesar de ter uma estrutura gigantesca e muito firme em uma espécie de miscigenação entre lagarto e cão, ele tinha também em um único corpo, sete cabeças e equilibrar-se não era muito fácil. E devido sua discriminação ele buscou confinar-se em cavernas e grutas, das quais ele é o deus por criação. E confinou-se durante muito tempo, pois passou a acreditar que era mesmo alguém que deveria ficar no anonimato e não deixar nenhuma marca de existência. Mas conforme o tempo ia passando, o deus deformado Teju Jagua resolveu sair de seu exílio eremita, para procurar pelo mundo algum lugar que o aceitasse do jeito que ele era.
    Foi então que o deus das cavernas, após sair das regiões montanhosas, vagou até chegar ao litoral. E de lá partiu,para um rumo incerto. A sua única certeza era de que sabia nadar muito bem, pois no mar não encontrava problema algum para nadar, porque lá a anatomia de seu corpo era favorecida. E Teju Jagua decidiu ir até as regiões abissais do Oceâno Atlântico. Pode ver muitas formas de vida diferentes e que são consideradas bizarras,e e lá em meio à escuridão das profundezas ele sentiu-se em casa.
    Após muitos  já quase cruzar todo o litoral do Brasil, enquanto passava por Fernando de Noronha, só que a muitos quilômetros abaixo, ele contemplou uma criatura aquática, a qual só reconheceu quando se aproximou. Era um de seus irmãos deuses, Mboi Tu'i que significa "serpente-papagaio" , quera o deus dos cursos de água e criaturas aquáticas e ao reconhecê-lo perguntou:
    - Meu irmão, venha comigo, estou procurando um reino onde não sejamos considerados inferiores, um lugar onde todos possam ser iguais.
    - Ir para onde ? estou surpreso de vê-lo aqui. Já faz muito tempo, mas não posso sair daqui, não consigo imaginar um reino que não seja o meu domínio das águas, e estou conformado na posição que estou. Me desculpe meu irmão. Te desejo sorte em sua busca.


   Teju Jagua no Templo de Zeus


     Teju Jagua, então seguiu seu caminho, e durante muitos meses ele nadou nas profundezas e em quanto mais se distanciava de casa percebia novas formas de vida em outra regiões, e apreciou a beleza que a vida proporciona e pensou consigo mesmo:
     - Esse é o segredo. Que graça teria viver em um reino onde todos são igualmente perfeitos. A lição que o mar me mostra é que é lindo ser diferente.
Independente se temos tentáculos ou nadadeiras, o importante é que temos vida para apreciar as diferenças.
       E após seis meses  nadando chegou até a Grécia antiga. Mas assim que sai da água, os gregos começaram a discriminá-lo dizendo que era uma outra criatura da qual nunca ouvira falar:
       - Corram todos! a Hydra voltou! é o nosso fim.
      E Teju Jagua, não entendia o que estava acontecendo. E enquanto caminhava pelas pólis, buscou por alguém que o recebesse nos templos, onde habitavam os deuses daquela região. E foi quando acabou por encontrar um templo de um deus chamado Zeus, e foi lá chamá-lo para que se apresentasse.
      - Sou o deus dos guaranis, indígenas brasileiros. Venho em busca de conhecimento. Preciso de um lugar onde eu possa ser aceito. Seria aqui este lugar ? 
      E naquele momento raios e trovões começaram a cair sobre Teju Jagua, que mal conseguiu se proteger.
      - Desculpe amigo, - disse Zeus - estava apenas testando se estava falando a verdade em ser um deus. A carga de força que mandei só mata mortais.
      - Sem problemas. estou acostumado a ser afugentado!
      - Então está em busca de conhecimento. Quer mesmo descobrir a verdade ?
      - Sim, quero encontrar um lugar onde todos sejam iguais.
      - Fique tranquilo caro amigo, você veio de muito longe, e eu como o soberano desta região irei convocar todos os outros deuses para recebê-lo.
      E Zeus criou um tufão de raios e tempestades para que chamasse a atenção dos outros deuses. Até que começaram a aparecer.
       - Quem tomou toda a ambrosia dessa vez e não deixou para Zeus ?! Gritou Poseidon.
       - Deve ter sido Dionísio, fiquei sabendo que a safra de uvas nessa época não está boa, aquele bêbado deve estar se entupindo de ambrosia agora! Sádico! Depois dizem que a bebida não traz a guerra. - diz Ares.
      - Para quê brigar garotos, se podemos desfrutar dos prazeres da vida e se deleitar no amor. - diz Afrodite.
      - Quem foi que você seduziu dessa vez Zeus ? será que não consegue controlar seus impulsos ? - diz Era.
      - Talvez o Olimpo esteja precisando ser administrado por alguém mais equilibrado, o que acha irmão Zeus ? - diz Hades
      - Talvez todos devêssemos, calar a boca, e prestar atenção no que nosso exótico visitante tem a dizer sobre isso - diz Hefesto, o deus da metalurgia que era manco.
      - Me desculpem por toda a agitação que causei, - diz Teju Jagua - mas estou em uma jornada na busca de conhecimento  e quero encontrar um lugar onde eu possa estar entre irmãos.
      - Mais um rejeitado como o aleijado do hefesto? - diz Ares. 
      - Mesmo aleijado, já te derrotei uma vez ! E posso Fazê-lo outra vez se assim desejar. - Replica Hefesto.
      - Já chega de discórdia!  - diz Zeus - Eu os convoquei para que pudéssemos orientar o nosso visitante que veio de muito longe até aqui.E... ondes estão os outros deuses ?
      - Atena está ajudando Odisseu em sua jornada - susurrou Hermes aos ouvidos de Zeus - mas não conte nada a Poseidon.
      -De onde venho, - diz Teju Jagua - o deus do trovão tem o nome de Tupã, e ele também é o principal entre os imortais. Ele controla o poder do trovão. E lá também temos o meu irmão, chamado Mboi Tu'i, que está encarregado do mar e das criaturas marinhas. Parece que aqui, existe alguém equivalente as funções dele, e esse alguém é Poseidon, do qual tanto ouvi falar no decorrer da viagem.
     - Fico feliz em saber que meu nome é ainda é lembrado em lugares mais remotos. - diz Poseidon.
     - Lá também temos um deus responsável pelas regiões infernais, e seu nome é Anhangá, e aqui quem seria mesmo ?
     - Eu sou o único soberano do reino dos mortos! Comando sozinho aquele lugar, para onde vão as almas e por lá ficam para serem esquecidas.
     - Perdão, não quis ofendê-lo - diz Teju Jagua - Mas é como são as coisas.
     - Talvez Dionísio tenha dado todo o seu estoque de vinho para ele suposto deus. - diz  Hades com tom sarcástico para Teju Jagua.
     - Querido, - diz Afrodite, enquanto abraça as fortes patas de Teju Jagua - Eu aconselho a procurar em outro lugar, talvez os deuses nórdicos possam responder as suas questões, porque apesar de ser atraente e educado, não terá aqui o que procura, a menos que queira me encontrar mais tarde...
     - Afrodite! Contenha-se! - Diz Zeus.
     - Olha só quem fala. O símbolo da perversidade masculina!
     - Tudo bem...- diz Teju Jagua - eu entendo que não possam me ajudar. Então por favor, não quero mais tomar o tempo de vocês, só me digam em qual direção devo segui para encontrar os deuses nórdicos.
     - É só ir para o Norte! Não é obvio assim ? - diz Hades, sem paciência alguma.
     - Obrigado a todos, e desculpe pela demora.
     - Parece o Hefesto andando...olhem só como é desajustado. Um protótipo de deus! - Diz Hades.
     - Não julgue pelas aparências. Ele guarda dentro de si uma força oculta. Não provocaria sua fúria se fosse você, senhor do submundo. - Diz Atena, que só surgiu ali agira.

                                              Trovão Nórdico  


       Percorreu o caminho até o norte onde andou durante um mês até ir nadando pelo mar novamente. E após passar 5 dias nadando, chegou até a Dinamarca, onde encontrou um grupo de guerreiros que se auto denominavam Viquingues de Jomsborg.
     Ao ver tamanha criatura sair da água sacaram suas espadas e machados e foram correndo e urrando ao encontro de Teju Jagua.
    - Eu não vim para lutar! - gritou Teju Jagua. - Estou aqui procurando por Odin, alguém pode me ajudar ?
    - O quê, - disse um dos guerreiros que agora paravam de correr - Você fala ?     - Sou o deus Teju Jagua, estou procurando Odin, para fazer algumas perguntas, poderiam me ajudar ?
    - Não escutem eles guerreiros, - disse quem os liderava - o Pai do Lobo é um grande enganador!
    - Se refere a Lucien, o lobo que detém o poder da morte ?
    - Podem atacar a vontade !
    - Não, esperem! Eu não quero machucá-los. Não estou aqui para isso, sou um deus pacífico.
    - Morra ! - gritavam enquanto corriam em sua direção ferozmente.  
    Mas antes mesmo dos machado atingirem  a impenetrável pele de Teju Jagua, Um relâmpago cai entre eles e com ele surge o Trovão, deus nórdico Thor.
     Apontando seu Mjölnir para o alto, e com postura de soberano, o poderoso Thor ordena:
     - Guerreiros de Odin! Segurem sua fúria, pois esse deus estrangeiro está aqui como convidado. E deve ser tratado como tal. Não é Loki "o pai das mentiras", é apenas uma entidade que veio em busca de conhecimento, e Odin aprova sua chegada, assim como eu.
    - Obrigado guerreiro deus do trovão. Nunca imaginaria ser assim tão bem recebido, nesta terra gélida porém acolhedora.
    - É o mínimo que podemos fazer, é um deus assim como eu e meu pai. 
    - Agradeço a gentileza, a muito tempo não sou tratado assim.
    - Meu pai propôs que sua chegada fosse comemorada no grande Salão de Asgard, com muito hidromel. - E começou a gargalhar depois do que disse enquanto batia no que seria o ombro de Teju Jagua.
    - Sério? Eu em Asgard...
    - Sinta-se honrado. Poucos guerreiros conseguem isso.
     E após dispensar os serviços dos guerreiros Viquingues de Jomsborg, os famosos jomsviking, ele agora conduzia por meio da Bifrost Teju Jagua, para a terra de Asgard. E chegando lá, já foram comemorando e beberam muito hidromel e Teju Jagua nunca se sentira tão bem assim, parecia estar entre irmãos.
     Não obstante, surge Odin, o deus caolho com dois corvos em seus ombros Huggin (pensamento) e Muninn (memória), e Odin Fez um brinde ao viajante longínquo e o saudou cordialmente. E Teju Jagua o agradeceu muito por toda a hospitalidade que ele oferecia.E tudo ia muito bem, até que algo muito inesperado ocorreu. Pois naquele mesmo momento de felicidade em que Teju Jagua sentiu-se feliz pela primeira vez, eis que surgiu Tupã, o "o espírito trovão" envolto em uma grandiosa nuvem negra. E o tempo fechou em Asgard.
    E tupã disse, enquanto criava uma tempestade:
    - Odin, onde está a sua honra e orgulho em dar a boas-vindas a um derrotado como Teju Jagua ?
    - Tupã, o que faz aqui ? Não entendo, isso não faz sentido algum.
    - Faz todo o sentido sim! Você planejou isso não foi - disse Thor enfurecido e referindo-se a Teju Jagua - Você fingiu ser nosso anfitrião para atacar com sua infantaria! logo aqui em nossa casa, o refúgio dos deuses nórdicos!
    - Poderoso Thor, eu jamais trairia a confiança de ninguém! - diz Teju.
    - Obrigado deus das cavernas Teju Jagua, sem a sua atuação, eu não teria conseguido segui-los por meio da Bifrost para chegar até aqui! - e Tupã começou a gargalhar e soavam como trovões  muito fortes e amedrontadores.
    Mas de repente, Teju Jagua começou a finalmente se enfurecer. E o deus cão de sete cabeças, fez o chão tremer ao começar a concentrar sua força. E enquanto Tupã gargalhava e o amaldiçoava, Teju Jagua apenas concentrava sua fúria, e em seu interior seu coração começou a ferver de ódio, e de repente a fisionomia das cabeças de cachorro passaram a demonstrar uma feição nefasta e maligna, pois agora Teju jagua, estava tomado pelo ódio. Porque para ele, naquele momento nada mais importava, abandonou tudo pela primeira vez. E Odin e Thor se afastaram, pois perceberam que a energia negativa que ali se concentrava era extremamente poderosa.
    E Tupã ao vê-lo naquele estado, mergulhado na raiva grita de lá de cima:
    - Maldito Teju Jaguá! o cãosinho deformado não consegue fazer amigos! Sinto pena de sua sorte! - e continuou - Você é um deus fraco! acha que vai chegar aonde com toda essa gentileza ? Isso só irá matá-lo! sera sua maior fraqueza e eu consegui explorá-la e agora você não tem nada.
    E Naquele instante, Teju Jagua revelou seu lado sombrio. Pois do chão saltou para o alto tão rápido que o próprio Tupã não pode vê-lo chegar, e Teju Jagua o deu um certeiro golpe com sua mandíbulas pesadas e o lançou para o chão como um cão raivoso. E ao cair Tupã rechaçou a mesa e o chão do salão de Odin, fazendo uma das colunas que sustentavam o andar de baixo se rachar.
    E Teju Jagua, voltou em direção a seu oponente que ainda estava no chão, mas Tupã reagiu e investiu com raios e relâmpagos sobre as cabeças de Teju Jagua, para tentar pará-lo, mas mesmo os relâmpagos queimando seu rosto, não foram capazes de parar a máquina de fúria que agora existia, e novamente enquanto Tupã ainda estava deitado no chão, o cão de sete cabeças agarra seus pés pelas mandíbulas e começa a correr muito rápido. E enquanto corre vai arrastando o corpo de Tupã pelo chão, deixando um grande rastro de destruição por onde passa. E Thor pensa em intervir, e fala a seu pai:
   - Não permitirei que essa criatura imunda, destrua o nosso lar. Meu pai permita que eu interfira!
   - Não meu filho! - Diz Odin. Temos uma lição a aprender aqui.
   E Teju Jagua, agora lança Tupã de volta para as nuvens, e as sete cabeças de Teju começam a gargalhar ferozmente. Até que a luta que interrompida por Thor, que decide intervir e o deus do Trovão diz:
  -Não permitirei que um traidor como você, continue a destruir nosso reino dessa forma.
   Mas Teju Jagua não estava mais lá, quem a gora o dominava era a sua própria natureza selvagem e ele nem sequer fez caso do que Thor lhe falava. E quando ainda aguardava eufórico que Tupã descesse novamente das nuvens para enfrentá-lo, Thor lançou seu Mjölnir e atingiu quatro de suas cabeças. E quase que no mesmo intante, Thor voa em direção a criatura e o agarra pelo tronco  lançando ele abaixo do grande salão de Asgard. Mas a força do impacto é tão grande que Teju Jagua apesar de não ter caído na coluna principal que sustentava o salão, acabou por cair muito próximo e toda a estrutura estava comprometida agora. Bastou que Teju Jagua se levantasse em meio aos destroços para que todo o salão começasse a cair. E Teju Jagua, cavalgou sobre os destroços enquanto ainda caiam até chegar ao alto da coluna do outro seguimento do Palácio de comemorações. E estando agora lá em cima pode ser visto por Tupã que o aguardava ansioso para equilibrar a luta, pois agora Thor também o ajudava e quando pulou em direção para deter Tupã novamente, Thor acertou com seu Mjölnir uma das patas dianteiras de Teju, e o mesmo se desequilibrou e começou a despencar. Mas quando estava caindo Tupã lançou sobre ele uma rajada de relâmpagos, e Thor o acompanhou e também lançou relâmpagos e sua tempestade sobre o deus cão. E o estrago foi tão grande que Teju agora estava soterrado em destroços num gigantesco buraco. E estava tão fundo que não era possível vê-lo. E Tupã disse:
     - Eis aqui alguém a minha altura! Agradeço sua ajuda Thor.
     - Do que está falando ? Você é o próximo maldito! - disse Thor pausadamente, para amedrontar Tupã.
     - Mas irmão! Partilhamos do mesmo poder...
     - Irmão ? - disse Thor
   E foram interrompidos pelo salto de Teju Jagua que os alcançou no mesmo instante em que Thor percebera toda a armação. E Teju Jagua morde e agarra ferozmente os dois deuses enquanto cai com eles em direção a um lago. E agora lá ele os afunda e golpeia com sua gigantescas patas ao mesmo tempo que prende com sua mandíbulas. Mas Thor lança sobre eles, que ainda estavam em baixo d'água um poderoso raio que difunde sua corrente de energia por todo o lago e eletrocuta a todos eles, lançando-os para longe uns dos outros.
    - Parem com isso, todos vocês! - ordena Odin - O pai da mentira nos enganou mais uma vez! Pois quem esta aqui é Loki, e não Tupã.
   E teju Jagua se levantou enquanto demonstrava estar disposto a ouvir o que Odin tinha a dizer. E Thor também se conteve agora, porque também tinha percebido sua falha.
    E Loki agora, voltou a sua forma original mas estava desacordado devido a gravidade dos ferimentos. E Teju Jagua também procurou se acalmar para retomar a razão, e foi aos poucos voltando ao normal. 
    - Você é muito forte deus cão! Se eu o tivesse enfrentado sozinho, pode ser até que eu tivesse tido um pouquinho mais de trabalho.
    - Eram dois contra um. - disse sem paciência Teju Jagua.
    E Thor, fingiu não ter ouvido e falou:
    - Desculpe tê-lo chamado de traidor, é que eu convivo com o Loki já algum tempo e estou sempre duvidando dos outros porque ele sempre nos engana e passo a ter essa percepção nos outros. Me desculpe deus cão. 
    - Não preciso de desculpas, e nem você. Talvez mais tarde, quando um dia novamente eu voltar aqui, e ai sim poderemos terminar nossa luta, e da próxima vez de forma igualitária. - E agora pensando disse - É só isso que eu busco, igualdade.
    - Teju Jagua, peço perdão por nossa postura e atitudes...
    - Não preciso de perdão Odin. Na verdade eu até agradeço por ter despertado em meu ser esse poder. Mas o que realmente interessa aqui é saber a verdade. Me disseram que Odin poderia me contar a verdade. Existe verdade ? Onde posso encontrar um lugar em que eu possa ser aceito  como sou, sem que desconfiem, ou me discriminem por ter nascido assim ?
    E naquele momento Odin, encarou com seu único olho, a todos os quatorze olhos de Teju Jagua e pode ver as profundezas de sua dor. A dor de um ser que fora abandonado pelo seu próprio panteão. E então, finalmente disse:
    - A verdade não está aqui. Você deve ir até o Rio Nilo, talvez lá você encontre o que procura. Mas a ajuda que posso te oferecer agora, seria a de pupá-lo da viagem, porque utilizando a Bifrost, você já estará nas terras do Egito em instantes. Por favor, aceite este favor como pedido de desculpas.
    

                                   Teju Jagua e Anubis

E foi da neve para o Sol escaldante. Ao chegar ao Egito, viu que aquele era um grande império e avistou suntuosas construções, e ficou maravilhado com a grandiosidade daquele império que era estritamente organizado. E ao ser avistado, por alguns egípcios que trabalhavam por ali, todos os que estavam por perto, sem nenhuma exceção se prostraram diante dele. E pela primeira vez Teju Jagua, foi tratado como um deus. Mas Teju Jagua perguntou:
      - Por que se prostram diante de mim ? Eu nunca fiz nada por vocês, nem sequer conhecia este lugar. Vamos! Levantem todos !
   Mas os egípcios estavam paralisados com aquela visão de grandiosidade do deus cão, e foram incapazes de obedecer. Mas Teju Jagua, pulou no Nilo e começos a nadar para não ser visto na superfície. E enquanto nadava no fundo do Nilo recebeu uma visita.
      - Consegue ver esses corpos ? Abandonados aqui no fundo do Nilo, que é considerado uma dádiva de vida fornecida pelo famoso deus Rá. será que ele se importa com os que estão aqui em baixo ? Todos eles abandonados.
    E ia ouvindo aquela voz, mas não conseguia ver quem estava ali, e Teju Jagua, só via a quantidade de corpos aumentar, enquanto ia nadando. E eram muito corpos que nas profundezas do Nilo se amontoavam, sem boiar na superfície.
      - Quer saber a verdade ? A verdade é que estamos aqui. E estamos aqui porque eles tem esperança. Mas a esperança é um sonho, e a realidade é que todos eles irão acabar como aqueles corpos que você acabou de ver. Foram abandonados.O fundo das águas habitaram até que Amnut os devore. E sejam esquecidas. Essa é a verdade que você procura. E todos os mortais estão condenados a morte e eu pesarei o coração de cada um deles. Mas todos são iguais, e eu só faço isso para me divertir.
     - Quem está ai ? - diz Teju Jagua.
     - Saiba que aqui está entre amigos. Somos muito parecidos, meu amigo. Veja só: Hórus tem a cabeça de Falcão; Hator é a deusa com cabeça de vaca; Baset a deusa da fertilidade e sexualidade tem a cabeça de gato; Sekhmeth tem cabeça de leoa e Thoth com cabeça de Ave; Set tem a cabela do porco formigueiro; Amnut com cabeça de crocodilo e corpo com partes de hipopótamo e leão; Rá a cabeça de uma ave de rapina.
     - Exijo saber com quem estou falando!
     - Suba até a superfície e te mostrarei - diz a voz.
     - Eu sou aquele que tem a cabeça de chacal. Meu nome é Anúbis.
     - E eu sou Teju Jagua. Sete cabeças de cão e um corpo de lagarto.
     - Se sente mais familiarizado aqui, meu amigo?
     - Sim, percebo que não sou tão "deformado" assim único.
     - Por que se importar com a aparência ? Ela é só um meio de esconder o caráter! estou me referindo a alguns deuses gregos.
     E Teju Jagua começa a rir.
     - Eu cheguei a conhecer alguns. São perfeitos no quesito aparência, mas as atitudes são bem humanas. Parecem até serem a personificação dos sentimentos e instintos humanos.
     - E eu fiquei sabendo que você conhece bem mesmo!
     - Como assim ? diz Teju Jagua surpreso com a afirmação.
     -  No mundo dos deuses, nenhum segredo dura a eternidade. Pois fiquei sabendo por meio de Bastet, a nossa deusa da sexualidade, que Afrodite, a deusa da sexualidade grega teve mais um de seus deslizes e acabou se envolvendo com um certo deus de sete cabeças.
     - Não acredito que ficou sabendo disso ? - disse Teju Jagua decepcionado.
     - Calma meu irmão. Você está entre iguais aqui, e entendemos.
     - Você veio até aqui buscar a verdade, mas a verdade somente ao futuro pertence. Talvez seus descendentes possam usufruir da verdade. Quem sabe serão heróis destemidos e até cantem canções entoando o nome deles ? Uma coisa é certa meu amigo. Você agora está em família, seja muito bem vindo ao panteão dos deuses egípcios.
    - Obrigado Chacal. 
     

domingo, 15 de janeiro de 2017

A Lenda da Tribo de Luison

     
     A lenda que vou te contar agora Raoni, cavalgou os tempos mais remotos até chegar aqui. Trata-se da origem do mal, mas também fala sobre uma promessa, a promessa de que um dia o filho de Teju Jagua irá nos livrar da morte.  Pois há incontáveis gerações atrás, na tribo de Andirá, um casal que havia se estabelecido no ponto mais alto da região de Enawenê Nawê, foi orientado pelo Cacique Araribóia, para que tivessem o seu filho em outra tribo, em algum lugar o mais distante possível da região de Andirá, porque o deus Tupã, o  "Espírito do Trovão" contou presságios sobre o nascimento do sétimo filho, que o casal aguardava. 
      Então o Cacique os conduziu, sendo o casal e mais 7 filhas, todos montados em cavalos até a região mais distante possível do povoado de Andirá, e após deixá-los no vale que era conhecido pelo nome de Anhangá, Cacique Araribóia partiu rezando em voz alta e clamorosa, apenas as seguintes palavras:
      - Que o nosso deus Tupã o poderoso Trovão e seu filho Guaraci, o deus Sol, protejam o casal Tau e Keraná e suas filhas. E que Jaci, a deusa Lua e guardiã da noite possa livrá-los das criaturas das trevas.
      - Mas Cacique - diz a mãe Keraná, como semblante de um guerreiro derrotado - porque os deuses querem que meu filho nasça em em um lugar tão desolado assim ? justo essa região do vale do abominável deus Anhangá?
      - Eu também não concordo com a opinião dos deuses, Cacique - Diz o pai furioso e inconformado - porque eu sempre fui devoto em especial a deusa Jaci. Sempre fui fiel a Jaci.

      Mas o Cacique, já estava longe e começara a cavalgar muito rápido, deixando para trás, as vozes do casal e o choro das filhas ainda quase todas pequenas e assombradas pela escuridão daquele Vale nebuloso.


     Ainda era de manhã, quando Tau começou a fazer o preparativos para que sua mulher se sentisse um pouco mais confortável para a chegada do bebê, que aliás, já parecia estar próxima, devidas as queixas de contrações que agora pareciam ter sido intensificadas.
    Keraná pediu a suas filhas que buscassem água no lago de arambari, e três delas foram até lá ajudar a mãe, que precisava de muita água. Enquanto isso o Pai fazia guarda do recinto de estrutura de bambu que fez para a mulher poder ter mais conforto. O qual era recoberto com folhas e galhos de coca, pois eram o tipo de planta mais predominante naquele Vale, ou pelo menos era o que estava mais visível em meio a toda aquela neblina o permitira ver apenas a 4m de distância de qualquer ponto, antes de atordoá-lo.
    Tau permitiu que suas filhas fossem sozinhas, porque todas foram abençoadas pela deusa Yebá Bëló, a qual era responsável pela criação do universo, e portanto estariam protegidas. E naquele momento, enquanto observava suas três filhas desaparecerem de vista ao descer o vale até o lago arambari, as outras quatro vieram até ele e gritaram, mas com agora extrema felicidade:
    - Papai! papai! - falaram desesperadas - É um menino!
    Então Tau correu para o lado de sua esposa, e enquanto ela chorava de alegria e abraçava seu bebê, Tau também começou a chorar, e abraçou os dois porque a muito tempo queria ter tido um filho homem, e finalmente se concretizara o pedido que fez a Jaci, a deusa da Lua.
   Cerca de uma 1 hora, após terem partido, as três filhas de Tau, finalmente chegaram até o lago arambari e enquanto coletavam água, observaram o reflexo da grandiosa Lua, a deusa Jaci, no lago. E puderam vislumbrar a imagem da deusa, como a forma de uma mulher extremamente linda e da qual reluzia uma luz que era capaz de ofuscar a visão. E as meninas se sentiram extremamente impotentes naquela presença, ao vislumbrar aquela imagem divina. Sentiram como se suas forças tivessem se esvaído. 
    A deusa então as fez cair em um profundo sono ao tocá-las. E elas permaneceram dormindo durante 3 dias. Porque esse gesto divino da deusa foi usado para poupá-las do grande terror que ocorrera com sua família.E após esse tempo foram finalmente acordadas pelo Sol, que resplandecia em seus rostos muito forte, a ponto de incomodá-las. Parecia que o deus Sol Guaraci, queria apressá-las, para que retornassem logo. E elas levantaram ainda um pouco sem saber o que tinha acontecido, pensando que tudo foi um sonho, e trataram de seguir o rumo até seus pais de volta. 
   Ao chegarem até o Vale de Anhangá, não encontraram seus pais, ou qualquer sinal de que pudessem estar por lá. E começaram a se infiltrar no Vale, e indo cada vez mais para dentro daquele Vale cheio de neblina e uma escuridão espeça capaz de ser tocada. As três ficaram sempre juntas e caminhavam a passos acelerados, enquanto chamavam e gritavam pelos nomes de seus pais e suas outras irmãs.
    - Socorro! -Diziam com desespero - Estamos perdidas na neblina. Papai! Mamãe! onde estão todos vocês ?!
   Mas Guaraci, escutou a súplica das meninas e se compadeceu para ajudá-las. E ele fez surtir em meio a toda aquela densa neblina escura um gigantesco feixe de luz do Sol, que foi usado para guiá-las para o alto de um penhasco, onde a neblina não era capaz de encobri-las. E quando finalmente chegaram naquele ponto, puderam ver seu pai Tau e correram para abraçá-lo.
   - Papai, onde você estava ?! - gritavam - Nós pensamos que você tinha nos abandonado.
   - Perdão minhas filhas, mas a verdade é que... eu amo vocês! -disse Tau enquanto tentava esconder o gigantesco ferimento no pescoço e costelas.
  - Papai, quem fez isso ?! - disse a mais velha de todas - onde está mamãe, ondes estão os outros ? Nosso irmão nasceu ? onde está ?
  - Minhas filhas, a verdade é que... a morte nasceu... - e suspirou agora sem conseguir conter sua dor e começou a agonizar.
    E naquele momento deu o último abraço em sua filhas e disse quase sem forças:
   - Eu... amo vocês....
    E partiu ali mesmo, naquele alto do penhasco vazio, de onde só era possível ver abaixo a grande neblina escura que dominava o Vale. E as meninas caíram em prantos, em tremendo desespero e dor. E todo o Vale ecoava seus gritos de dor. E já era o início da noite naquele instante em que isso ocorrera. E elas permaneceram ali até que a Lua aparecesse. E elas se indagaram do por quê a Lua teria feito aquilo com elas, e permitido que seu Pai morresse.
    Nenhuma resposta ouviram, mas quando enfim pararam de chorar, conseguiram escutar um canto extremamente lindo. Parecia ser o canto de um pássaro, mas era o som mais lindo que já ouviram. E e parecia convidá-las a voltar para o vale, e elas já sem esperanças decidiram seguir o som, para ver de onde vinha aquele canto. E ao se aprofundar na escuridão daquele vale puderam após algum tempo  ver Yorixiriamori, o deus pássaro que estava planando sobre suas cabeças até que pousou em um galho de coca e começou a comer as suas folhas. As garotas sem entender aquilo, perguntaram se era ele o portador daquela voz tão sublime e o pássaro não respondeu, só voltou a cantar e seguiu seu caminho. As meninas o seguiram, porque apesar de não poder vê-lo conseguiram ouvi-lo, e a música que entoava foi capaz de guiá-las para fora do Vale de Anhangá.
    E quando as três saíram e se livraram de toda a neblina densa e negra, o deus pássaro Yorixiriamori decidiu falar:
    - Quero saber o nome de cada uma, em ordem crescente.
    - Mas você não é um deus ? - disse a mais nova - pensei que os deuses soubessem de tudo...
    - Nossa mãe Keraná, disse que os deuses são oniscientes - disse a irmã mais velha.
    - Nosso pai Tau - disse a irmã do meio - uma vez me disse também que eles não onipresentes, e onipotentes. Seria você um deus de verdade ? Nem nossos nomes sabe.

    - Por favor, me digam os seus nomes, em ordem crescente.
    - Sou Iracema.
    - Meu nome é Kauane.
    - E o meu é Tacira.

    - Obrigado, por responderem meninas. Então vocês me falaram que um deus deve ser onipresente, onisciente e onipotente ? Eu entendo, são realmente características divinas, mas a verdade é que isso não pode ser verdade.
    - Não entendo... - disse Tacira 
    - Se eu fosse onipresente, e isso considerando apenas a minha existência, seria muito estranho que eu permitisse a morte de seu pai, já que sendo onipresente eu estaria ao lado dele, olhando em seus olhos,  e sendo onisciente, já iria prever que ele seria atacado, afinal eu saberia de tudo. E o maior de todos os problemas seria pensar que sou onipotente, porque eu teria o poder para agir naquele momento, antes que seu pai morresse e apesar de estar lá e já saber que o perigo se aproximava, eu não teria feito nada.
    - Mas você é um deus! - disse Iracema
    - Sim minha querida, sou um deus. Mas essas características não são minhas. Eu prefiro me resignar apenas ao canto perfeito e belo dos pássaros que encantam as mulheres e causam inveja aos homens mortais. Mas se eu fosse assim tão poderoso, jamais permitiria que vida alguma fosse ceifada, ainda mais da forma como seu pai morreu.
   - Então você estava lá ? É onipresente ? - concluiu Kauane 
   - Querida, sou um pássaro e sobrevoava o penhasco no momento em que seu pai fora morto. E também pude ver o nascimento da criatura portadora da morte, a qual matou o pai de vocês...
   - Mas porque não fez nada para ajudar ?
   - Querida Kauane, eu não pude estava muito longe da área, mas meus olhos conseguem observar muito além do alcance de vocês mortais, e por isso pude ver o que acontecia, mas não tinha poder para fazer nada. 
   - Então ao menos nos ajude a encontrar nossa mãe e irmãs. - falou Tacira.
   - E nosso irmão, será que já nasceu ? - disse Iracema.
   - Isso eu não posso fazer. Prefiro protegê-las da informação. Ela poderia causar muita dor a vocês.
  - Do que está falando ? muita dor... mamãe está bem ? - disse Tacira
  - Não pergunte o que não cabe a mim responder, - diz o deus pássaro - eu exito apenas para reconfortá-las, com minha música. Para que se maravilhem com o meu canto e esqueçam os problemas que assolam as suas vidas.
  - Mas tem que fazer algo, se ficarmos nessa floresta sozinhas iremos morrer, ainda somos crianças.
  - Me desculpem crianças, mas tenho que ajudar outras pessoas que estão agora em grande perigo, consigo observar através da névoa. Mas sempre que precisar de consolo, bastará ouvir em todos os cantos a minha melodia. Ela irá reconfortá-las, e será como se eu estivesse aqui.
  - Não por favor, deus pássaro ! - disse Tacira
  E enquanto elas gritavam, e suplicavam para que ele não as abandonasse ali, ele sem olhar para trás, partiu rapidamente voando acima daquela floresta sombria na qual agora as meninas se encontravam.


A Floresta da tribo de Aimoré




   Iracema, Kauane e Tacira estavam agora em território ainda mais desconhecido. Era uma floresta quase que exclusivamente de araucárias mas também formada basicamente por mamonas como plantas menores, de forma que cobriam os rastros de trilhas e quase não era possível ver o caminho se está em condição de baixa estatura. E essa floresta, não tinha nenhuma neblina, o que ao menos já era considerado muito favorável, pois elas poderiam saber por onde e para onde estavam indo.
   As meninas caminharam durante toda a tarde e começaram a sentir cansaço e fome. Foi então que resolveram para a caminhada e coletar algo para comer. Mas observaram que o única coisa comestível naquela floresta era o pinhão. Entretanto as meninas não conheciam as sementes da mamona pois na região onde nasceram de Enawenê Nawê, e nos arredores da tribo de Andirá, nunca ouviram falar desse fruto verde, redondo e com espinhos um tanto moles.
  E após coletarem sementes de pinha e mamonas, sentaram-se uma ao redor da outra para ficarem mais aquecidas, já que não conseguiram fazer uma fogueira e agradeceram a Ceuci, a deusa das lavouras pelo alimento que lhes foi dado. E elas estavam ainda de luto pela morte de seu pai, e sem saber o que fazer, ou para onde ir. Só lhes restava comer e saciar a fome e o cansaço. E Tacira foi a primeira a pegar uma semente de mamona, colocou na boca e quando deu a primeira mordida, uma lança de 4m atingiu o cesto que fizeram para coletar a comida. E Tacira cuspiu no mesmo instante a semente de mamona. E em seguida todas elas gritaram assustadas, pois não puderam ver ninguém por perto, até que subitamente saltou da araucária um índio de estatura muito alta. Parecia ter no mínimo 3m, e ele disse:
    - Crianças!  não sabem que esse fruto é amaldiçoado? Uma única semente leva o seu espírito para sempre, e só resta a dor.
    Mas as meninas estavam amedrontadas com a aparição repentina desse gigante. E após pegar de volta sua lança o gigante sorriu e disse:
    - Me perdoem por não me apresentar. - e estendendo as mãos para Tacira continua - Meu nome é Graxaim e não permitirei que fiquem aqui nesse lugar tão perigoso sem ninguém para protegê-las.
    - Olá Graxaim, - diz finalmente Tacira, enquanto as suas irmã se escondem atrás dela - Estamos com fome e sem ter para onde ir. Procuramos nossa mãe e nossas irmãs. E estamos perdidas aqui.
    - Nosso pai morreu - disse Kauane - e ao dizer isso Iracema começa a chorar sem parar.
    - Então alguém matou o pai de vocês ? Qual era o nome dele ?
    - Era Tau - disse Kauani enquanto saia das costas da irmã.
    - Então são da tribo de Andirá ? e nunca ensinaram sobre os frutos venenosos ? - falou o gigante Graxaim.
    - O Cacique iria nos ensinar, - diz Iracema - Mas tivemos de partir de lá antes...
    - Antes do que criança ? - diz Graxaim
    - Antes que nosso irmão nascesse, o Cacique nos exilou da tribo e nos mandou ao Vale do deus Anhangá, para morrermos. - disse Tacira.
    - Não é verdade  - retrucou Kauane - o Cacique Araribóia é um homem sábio, jamais colocaria a tribo em risco ?
    - Exatamente minha irmã, esse é o ponto - diz Tacira - Por que ele nos exilou da tribon antes de nossa mãe ganhar o bebê? E lembra o que o pai disse antes de morrer... suas últimas palavras foram...
    - " A verdade é que... a morte nasceu..." - completou Iracema.
    - Então é verdade - diz frustrado o gigante Graxaim - a maldição é algo real.
    - Maldição ? - diz Tacira - do que está falando gigante ? 
    - Venham crianças, eu carrego vocês, devem estar famintas e com sede. Depois que descansarem eu lhes contarei a lenda da de Luison.
   E o gigante as carregou, pois já estavam muito debilitadas e cansadas, apesar da adrenalina não demonstrar, e as levou até uma pequena tribo, que se havia se estabelecido no litoral de uma praia que no futuro seria chamada Trindade.


 A Tribo de Trindade


   Ao chegar na tribo de Graxaim, Tacira começou a sentir dores abdominais, e vômitos. E naquele instante Graxaim sendo conhecedor dos efeitos da mamona, logo chamou Dakota, pois era ela uma especialista na medicina das plantas, mas a mesma disse que mesmo não tendo ingerido totalmente as sementes, pelo fato de serem crianças, a pouca quantidade de veneno das sementes já é suficiente para matar.
   - Eu estou me sentindo muito mal, me ajudem por favor! - suplicava Tacira - por favor eu preciso encontrar minha mãe e minhas outras irmãs. Preciso proteger minhas irmãs.
   - Eu sei porque ela comeu primeiro... - concluiu Kauane - não foi por egoísmo, foi para salvar  a gente iracema.
   - Como assim salvar ? Sua irmã está bem Kauane. Só está muito cansada pela viagem que fizeram até aqui. - disse Graxaim.
   - Não é verdade...- falou Kauane sussurrando - eu ouvi o que a mulher Dakota disse, e pelo visto ela já viu isso antes.
   - Me prometa uma coisa - diz o gigante - vou ficar aqui cuidando da irmã de vocês e preciso que se alimentem e descansem. Por favor não se preocupem ficarei aqui com ela e não deixarei que nada de ruim aconteça.
   - Só se você prometer que ela vai ficar bem - diz Iracema muito determinada.
   - Eu prometo - disse Graxaim.
   E as duas foram se deitar chorando, após se despedir da irmã e ver que ela ainda gemia de dores e que estava realmente muito mal.
   E Graxaim não saiu do lado dela, e segurou a mão de Tacira. E perguntou a idade das suas irmãs.
    - Então Iracema tem apenas 6 anos e Kauane 14, e você tem mesmo... ?
    - Eu tenho 16 anos Graxaim.
    - São muito novas para já terem visto tanta dor de perto.
    - Parece que o mal não está nem ai para esse negócio de idade. E talvez a morte também não.
   - Do que está falando Tacira?
   - Eu vi o jeito das minhas irmãs, conheço elas. Alguma coisa muito grave vai acontecer comigo.
   - Não vai Tacira, eu prometo! os deuses vão ajudá-la. Acredite!
   - Se eles pudessem ajudar já o teriam feito - diz Tacira como desilusão em seu semblante.
   - Beba mais água por favor, você não pode ficar desidratada. - diz Graxaim quase interrompendo a fala de Tacira.
    E Graxaim ficou ali até que ela pegasse no sono, pois mesmo sem comer, já que vomitava a toda hora, até que Tacira dormiu de exaustão, mesmo ainda tendo muita fome.
    Assim que amanheceu Dakota e as irmãs de Tacira vieram até a Oca onde ela estava alojada, e viram o gigante ainda acordado fazendo guarda de pé com sua lança em cima da Oca.
   - Desca aqui Graxaim, faça ela beber ? - disse Dakota
   E Graxaim pegou a bebida e ao entrar na Oca, acordou Tacira, e pediu para que ela bebesse o chá de Ayahuasca.
   - Beba tudo querida - disse Dakota.
   - Eu vou melhorar ? Preciso muito ver minha mãe e irmãs - disse Tacira.
   - Quando os deuses nos apresentaram essa planta, muitos falaram que conseguiram falar com pessoas que estavam muito distantes. Quem sabe isso possa ajudá-la. Eu não prometo nada, mas não custa tentar.
   - E a garota bebeu o chá de Ayahuasca, enquanto abraçava suas irmãs e começaram a chorar sem parar, até que Graxaim as interrompeu.
   - Eu preciso contar sobre a maldição, a lenda de Luison.
   Mas Dakota o repreendeu e disse - Contar o quê ? Essas crianças não precisam saber de mais nada de ruim. Não vê como estão abaladas ?
      - Elas precisam saber a verdade. Antes que seja tarde.
     E Dakota saiu furiosa da Oca. E nesse momento Graxaim começou a contar:
     - Eu meditei sobre o que me disseram e cheguei a conclusão de que eu sei o motivo de as pessoas estarem morrendo.  -  E as meninas apenas olhavam mas pareciam não estar escutando, pois já estavam muito atordoadas com toda aquela situação. - Pois saibam que existe um lenda mais antiga do que nosso povo, na qual o sétimo filho de um casal seria o portador de uma maldição chamada morte. E o nome da morte é Luison,ele é a entidade detentora sobre o poder da morte. E é por causa dele, o sétimo filho que pessoas sofrem.
      Naquele momento Tacira estava em transe, e em sua viagem mental foi até sua mãe, após sobrevoar pelas asas de Yorixiriamori os céus. E seu pai também estava vivo, e suas outras irmãs estavam muito felizes em revê-la. E ela sentiu a felicidade novamente, pois agora todos os seus problemas pareciam ter sido apenas parte de um pesadelo do qual não queria mais voltar. E por ali ficou. No mundo dos sonhos, onde tudo é possível. Talvez o melhor lugar para alguém que não teve a oportunidade de conhecer a felicidade no mundo em que estava.
      E naquele momento em que Tacira morreu, Graxaim desabou. O gigante Graxaim cai de joelhos perante a imagem da criança desfalecida e Ruge de dor, por não ter tido poder para ajudá-la. E ele inconformado crava sua lança no chão com muita força, e soca o chão com todas as suas forças até abrir uma enorme cratera. E enquanto bate no chão, seus socos soam como trovões e fazem o chão tremer. E enquanto faz isso não para de gritar de dor, porque mesmo destroçando as mãos, ele parece não estar sentindo os danos que está fazendo em seus punhos. Até que ele finalmente grita:
     - Estou falando com vocês! Isso mesmo, vocês que se denominam deuses! Eu sou um insignificante mortal, mas mesmo assim não sai do lado dela, quando ela precisou, e fui eu quem ofereci socorro quando elas precisaram. 
     E agora voltando a socar o chão disse:
    - Então por que vocês nos abandonaram ? não fazem questão de nos ajudar, nem sequer se importam com a dor que as pessoas sentem aqui em baixo. Já pensaram em se colocar em nosso lugar ? Eu espero que ao menos algum de vocês esteja me ouvindo!
    
                                         Batalha de Gigantes


     Graxaim estava decidido. Não queria mais ver sofrimento. Pois antes mesmo de conhecer as crianças perdidas na floresta, o gigante teve uma família, a qual fora assassinada por outra tribo em disputas territoriais. Porque a tribo de Aimoré, da qual Graxaim viera, era uma tribo de  índios de grande estatura, mas que porém tinham o coração muito bom, e eram sempre muito prestativos em ajudar o próximo. E essa qualidade foi explorada por seus inimigos, que facilmente os enganavam até que conseguiram atacar massivamente a aldeia deixando apenas alguns poucos sobreviventes, enquanto a maioria, apesar de ser extremamente forte, se mantivera pacifica, pois não cultuavam o ódio e a morte. Eles adoravam a reciprocidade e o amor, e usavam suas força para ajudar, e nunca para ferir.
     - Eu já disse que vou achá-lo! - fala Graxaim tomado pela raiva.
     - Se você for, quem vai cuidar das meninas ?
     - Por favor Dakota, cuide delas por mim, você é uma excelente pessoa, e sei que vai saber ensiná-las sobre os perigos da floresta e irá mantê-las seguras.  
     - Eu entendo. Está determinado mesmo a enfrentar a morte ? - e Graxaim Consentiu com a cabeça - Bom, nesse caso eu farei isso por você. Cuidarei e oferecerei todo o meu amor a essas crianças, pois não merecem mais ver sofrimento.
     E Graxaim deu um forte abraço em Dakota.
     - Você sempre foi teimoso, um coração muito bom e sempre carregando o peso do mundo em suas costas, mas muito teimoso... desde crianças - disse Dakota.
     - Então você ainda se lembra ? Talvez nós estejamos fadados a lembrar dos melhores momentos apenas quando a morte se aproxima.
     -  Do contrário como poderíamos dar valor a vida ? - disse Dakota.
     -  Eu não acredito nisso. Eu vou a luta. Porque não acredito que é preciso perder para se dar a valor a algo. A vida não tem que acabar, e eu acredito no amor e na esperança, a morte só destrói o que aprendemos a amar, e eu não vou permitir que Lucien continue com isso. 
     Dakota agora abaixa a cabeça e fecha os olhos como se sentisse dor ao ouvir as palavras de Graxaim.
    Mas o guerreiro gigante parte, equipado com sua lança que fora banhada com o veneno curare preparado por Dakota. E Lá de cima do topo do monte Graxaim se despede de Dakota e das meninas, até que um grupo sai da praia e vai ao seu encontro correndo. Graxaim observa com receio, até que chegam e um deles lhe dá uma espécie de grande cantil, cheio de curare e então diz:
    - A tribo de Trindade nunca esquecerá ou deixará de ajudar um amigo. Saiba Graxaim, que somo muito gratos pela sua ajuda aqui. Obrigado por ajudar proteger nossa floresta e nossa praia dos exploradores. Eles eram muito fortes, e você foi um guerreiro muito admirado. Os nativos daqui fizeram até canções para entoar sobre seu nome. Sua história permanecerá aqui por muitas gerações. Obrigado amigo.
    - Eu não esperava ter nenhum tipo de reconhecimento - diz Graxaim - eu apenas estava ajudando. Os homens estranhos queriam destruir esse paraíso de praia e matar as pessoas, e eu... bom não fiz nada além de ajudar a proteger esse lugar e as pessoas gentis daqui. Eu que agradeço pela oportunidade de poder ajudar e pelo reconhecimento. Levarei vocês em meu coração. Adeus amigos.E após apertar as mãos dos nativos de Trindade, Graxaim parte a procura de Lucien.
    Graxaim percorre a floresta de mamonas e araucárias durante a manhã toda até chegar no começo da tarde no Vale de Anhangá, o deus das regiões infernais. E começa a adentrar no Vale amedrontador de neblina escura e densa, e após 40 minutos de caminhada com sua lança em punhos e sempre altivo, o guerreiro escuta um uivo estrondoso de um lobo. E o Guerreiro logo percebe que está próximo da criatura maligna que até então não aparecera.
    O guerreiro após andar em círculos em meio a neblina se depara com uma montanha, não muito alta, e fácil de escalar.
    - Que estranho, não me lembro de ter visto isso aqui. - Diz o gigante já com náuseas por tanto tempo andando na neblina densa e escura.
    Então resolve escalar a montanha para conseguir saber onde está já a essa altura, pois já parece ter andado muito a ponto de se cansar. E ao chegar a superfície da montanha, a qual ficava acima da neblina, conseguiu ver de lá do alto uma fogueira e prontamente desceu da montanha  pulando sobre uma araucária e escorregando até o chão, e suas mãos calejadas nem se quer sentiram o atrito da descida. E logo começou a correr e gritava, surpreso:
   - Quem poderia sobreviver em uma região assim tão sombria e inóspita ? - pensou o gigante - Quem está ai !? - gritou.
   E ao chegar até a fogueira, pode observar uma mulher com quatro crianças e eram todas meninas. Mas todas estavam, parecendo dormir profundamente. Até que uma voz com tom sombrio ressoa em meio a neblina:
   - Vocês gigantes são mesmo muito burros! Eu não pensei que seria tão fácil assim atrair você.
   - Quem está ai ?
   E finalmente o Lobo aparece, Lucien o portador da morte, enfim mostra sua forma natural.
   - Então você é a morte ? Confesso que já enfrentei criaturas maiores e mais tenebrosas
   - Então não tem medo de mim ? - Disse Lucien - Não tem medo da morte ?
   - Eu... medo da morte ? Não, a morte é do meu ponto de vista apenas um deus tirano que não sabe controlar a sua raiva e desconta nas criaturas mais doces e frágeis que vê primeiro.
   - Não sabia, que a sua espécie conseguia pensar, ou mesmo chegar a conclusão alguma.
   -  Pois saiba que nós mortais, apesar de fadados a enfrentá-lo temos muita força de vontade para não desistir dos nossos sonhos, e o que me traz aqui foi o último sonho que você matou.
   - Sim! você está certo eu me alimento de sonhos! todos aqueles que eu toco tem tanta esperança, vontade de viver e perspectivas que ainda não concretizaram que eu não consigo me controlar, tenho que tomar deles essa força que move eles, que faz os seus corações baterem com tanta esperança. - E começa a rir.
    -O sonho de uma garotinha que queria rever sua mãe e sua irmãs antes de morrer, saber se elas estavam bem, se estavam vivas. E você tirou isso dela, você tirou dela a esperança de viver feliz com sua família. Consegue se lembrar do nome dela ? Tacir.
    - É claro que me lembro, essa eu fiz um grande esforço para tocar. ela estava vagando no mundo dos sonhos quando enfim pude vislumbrar a emoção que ela emitia. Chamou minha atenção, ela estava tão feliz que não pude me conter, eu tinha que tocá-la. Mesmo tudo aquilo sendo um sonho, ela criou uma realidade em que todos estavam bem e ninguém mais morreria. Foi muito saboroso! tenho que admitir.
    - Seu desgraçado! Maldito ! Era só uma criança indefesa. Incapaz de se defender.
    - Eu não ligo pra faixa etária, classe social, estado emocional se a pessoa tem ou não tem, se é vermelho ou amarelo, eu apenas faço o que tenho que fazer. Faz parte do equilíbrio do ciclo natural. mas você é só um selvagem, nunca vai entender qualquer coisa que seja mais complexa do que um arco e flecha. 
    - Saiba que posso não entender do conhecimento dos infinitos seres. Mas entendo o amor e a compaixão e esses sentimento eu posso senti-los em meu ser, e são parte do divino em meu corpo, e quando o amor é ferido entra em ebulição esse sentimento e eu farei do meu corpo uma arma para combater o deus maligno e tirano que é você Lucien, o portador da morte.
    E o gigante Graxaim corre em direção a Lucien, e o lobo não recua, subestimando a força de seu oponente, até que Graxaim o acerta um soco que ressoa como o barulho de um trovão. E o  lobo é lançado pelo impacto para cima da neblina, e enquanto está no ar ainda subindo pelo impacto, Graxaim escala rapidamente a uma velocidade  muito grande uma montanha cheia de plantas de coca, e ao chegar ao topo, pula em direção de Lucien que ainda está caindo. Ao atingi-lo, o gigante o abraça com todas as suas forças enquanto cai em direção ao solo e diz: 
   - Já que você não é capaz de sentir o amor vou forçá-lo a aprender com um abraço. Porque era só isso que ela queria! dar um abraço em sua mãe, e dizer o quanto a ama.
   E ao caírem no chão a força do impacto é tamanha , que racha a base da montanha que ali estava perto e acorda do sono a mãe de Taecir e suas irmãs que ainda ali estavam.
   Enquanto isso Graxaim segura pelo pescoço a morte e após jogá-la no chão, começa a inferir inúmeros socos, e são socos extremamente fortes que vão cavando e afundando os dois cada vez mais. Até que a morte grita, agonizando:
   - Por favor pare! por favor! - e o gigante imediatamente de detém - Eu estou disposto a não matar mais, quero aprender como é ter esse sentimento que te dá tanta força! Por favor me ajude Graxaim. Eu reconheço que errei.

    E o gigante Graxaim o solta então e volta a ficar mais calmo.
    - Eu nunca quis machucar ninguém Lucien, só fiz isso porque eu queria que a dor das pessoas parasse e a minha também. E agora sorrindo o gigante continua - Fico muito feliz de saber que quer conhecer a bondade e o amor. Tenho que admitir, ssão os sentimentos mais fortes que existem! 

    E Lucien, o lobo agora se transporta para o lado das meninas e diz:
   - Não acredito que você foi enganado mais uma vez. Você é tão burro que é capaz de ver a bondade e o amor até naqueles que jamais o sentirão. E já que você disse que o amor é o sentimento mais forte que existe. Que tal isso - E Lucien agora toma a forma de um humano e segura a uma das meninas com uma faca em seu pescoço - Que tal fazermos um acordo ?
   - Largue-a! Lucien eu ordeno que solte a menina seu desgraçado. Enganador, maldito! Solte! 
   Enquanto isso a mãe chorava de desespero e as outras meninas também, e clamavam para que Graxaim as ajudasse.
   - Diga o que quer maldito! eu faço qualquer coisa para que elas permaneçam vivas. - Falou agora com os olhos inundados em lágrimas, pois já não se conformava mais com tanta maldade.
   - Solte minha filha! - gritava a mãe.
   - Eu solto - disse Lucien - Você foi só m instrumento usado para me libertar para este plano. A sua gravidez foi uma farça, somente para que eu pudesse ser transportado para esse plano. Mas tenho que admitir, ter seu marido Tau como minha primeira vítima foi muito interessante, ele resistiu muito tempo, parece que o amor que ele tinha pelas filhas, a vontade de encontra-las era tão grande que eu não conseguia tocá-lo, pelo meno de forma definitiva. Só depois que ele viu que suas filhas estavam bem que consegui levá-lo.
    E ao ouvir isso a mulher cai em prantos junto com as crianças.
   - Calado maldito! Não irei tolerar mais nenhuma  difamação nesta terra. Diga logo o que quer que eu faça. - Diz o gigante
   - Eis o que quero, grande gigante, que acredita na esperança! quero a sua vida pela dela.
   E naquele momento o gigante conteve toda a sua fúria e disse:
   - Somente se você jurar, como o juramento dos deuses, que não pode ser quebrado, de que as deixará viver e conhecer a felicidade.
   - Eu prometo, Juro pelo juramento dos deuses imortais que não tocarei nas vidas das meninas e da família protegida pelo gigante da tribo de Aimoré.
Satisfeito ?
   - Se esse é o único jeito de salvá-las, não exitarei mais nenhum segundo aqui então. Só peço que permita matar minha sede, pois gastei muitas forças nesse combate, o qual não tive a chance de finalizar.
   - Pode fazer o que quiser gigante, logo nem se dará conta que existiu! 
   E o gigante Graxaim bebe o gigante cantil que carregava em suas costas e após terminar de berber, Lucien solta as meninas e as transporta para a tribo de Trindade, e logo volta até a neblina do Vale de Anhangá para terminar de vez com o gigante.
   - Você é muito burro Graxaim. Poderia ter me derrotado facilmente, com esse sentimento que está em ebulição sem seu corpo, mas preferiu abrir mão da própria vida por alguém que mal conheceu. Gigante são mesmo muito burros! -  Mas chega de falar, vou agir logo e devorar seu maldito corpo de mortal.
   -  Eu não... me importo .... de morrer por amor. Não importa se me conhecem ou não. Eu não desistirei deles... eu sou amor e no final esperança.
   - O que houve Gigante parece estar meio embriagado. O que tinha nesse seu cantil ? Quer saber, não importa. - e transmutou-se em Lobo novamente, que é sua forma original e começou a devorar o gigante já desacordado. E após engoli-lo o deus da morte se vangloriou por ter derrotado o único com força para derrotá-lo.
   Nunca serei destruído, porque esse mortal era provavelmente o escolhido, Tenho certeza não há mais ninguém que possa me derrotar além desse lixo que acabo de engolir. E tinha um gosto muito amargo. Isso é muito estranho...
   E naquele momento o deus da morte caiu paralisado, não conseguia erguer um único músculo de sua mandíbula gigantesca. Os seus olhos estavam paralisados, parecia dormir acordado. E a dose ingerida de veneno curare pelo gigante passou para o corpo do lobo, que agora lançado ao chão dava o seus últimos suspiros de vida. Pois mesmo sendo um imortal, o deus da morte fora derrotado pelo amor, que é uma coisa eterna, e este sim pode ferir profundamente os deuses.
   


 - E foi assim Raoni, meu discípulo que a morte foi derrotada pela primeira vez.
 - Mas Pajé... então o gigante Graxaim era descendente de Teju Jagua ?
 - Era um dos filhos de Teju Jagua, mas fora criado em outra tribo, e nunca teve a oportunidade de conhecer seu pai infinito. Mas segui seu legado. se tornou um herói.